Chuva

Olho através da janela. As nuvens já engoliram o azul do céu, que agora está tomado por uma grande massa cinza que despeja seus desejos contra a terra quente. O cheiro da água, misturada à terra quente...O som das gotas na janela de madeira, e o vento frio que entra pelas frestas daquela armação já ultrapassada...Tudo formando um mix de sensações...mas o que é isso? Que aperto é esse? Por que minha barriga está contraida e gelada? O que está acontecendo? Eu estou....estou tremendo...o aquecedor parou de funcionar? Não? Essa sensação me perturba...anciosidade, curiosidade, medo, incerteza...o que está acontecendo?

Não sei...pelo menos, naquela tarde cinza, daquele dia que acordara ensolarado e terminara em tons de preto e branco...pelo menos naquele momento, eu não sabia o que era aquilo...

Encostado no parapeito da janela, eu apenas observei as gotículas da chuva que escorriam pela vidraça suja. O cheiro de terra molhada já tinha partido, estava substituído por um forte odor de musgo.

Do alto morro onde se encontrava minha pequena casa, podia ver as pequenas corredeiras d'água formadas pelo excesso de chuva, que levava as folhas dos grandes carvalhos. Consegui vizualizar uma cena de batalha naval travada por piratas, onde as folhas mais escuras eram barcos de saqueadores, incrivelmente ligeiros comparados às pequenas folhas dos colonos e senhores nobres, que eram facilmente dominados por estes gatunos aquáticos.

Perdi o foco da batalha para admirar outra raridade da natureza. Um casal de pássaros se debatendo, como se fossem um casal brigando por algum problema desastroso. Percebi que estavam segurando o ninho com suas pequenas patas, levando este ninho para mais próximo ao tronco principal. Enquanto a fêmea (deduzi o sexo pelo tamanho das aves) voava em várias direções trazendo gravetos e folhas para reforçar seu lar.


Naquele dia de chuva, notei que tudo estava em movimento...mesmo eu, parado olhando tudo...estava em movimento...