quinta-feira, 18 de junho de 2009

Despertar

Abri os olhos ofegante, procurando com angústia algo para olhar, para ter certeza que estava em meu quarto. Coçava o rosto enquanto tentava identificar a mobília do meu quarto, realmente estava tudo onde deveria estar. Num pulo, levantei da cama e verifiquei se a minha puberdade e se meus neurônios não haviam sujado nada desde o último sonho. Para a minha sorte estava tudo ok.

"Hora de encarar a vida não?" pensei comigo enquanto colocava meu jeans favorito com uma camisa branca de gola, completamente casual...mas para os garotos da minha idade, era formal de mais. Bagunçei meu cabelo preto com as mãos para dar um jeito...não importava estar bem apresentável ou não...Mas a parte ruim de ser adolescente estava por vir...aguentar aqueles professores ensinando algo relevante, enquanto o mundo gira lá fora..."enfim, faz parte do sistema" é o que eu me repetia sempre que ficava revoltado com tudo isso.

Como de costume, saí de casa sem falar com ninguém senão com a minha própria mente, que às vezes parecia responder. Por sorte o dia estava nublado o bastante para não haver sol...não gostava do calor, a transpiração...prefiro dias assim...nublados, úmidos...Cheguei à escola tão cedo quanto o de costume, e sempre, apesar disso, chegava atrasado na sala de aula...o motivo? Me maravilhava a biblioteca da escola...sempre vazia, sempre quieta...

O professor já estava sentado em sua mesa quando eu apareci na porta, com os olhos vazios, me dirigindo ao meu lugar sem ao menos pedir licença. Me recusava a olhar para qualquer lado que fosse se não para o grande quadro negro, pois sabia que todos me olhavam e faziam cochicos...as meninas olhavam e davam risadinhas envergonhadas...os garotos olhavam com despreso, como se eu fosse uma aberração. O problema é que era assim com todos os alunos da escola, no intervalo...exceto um garoto...que me fitava com um afeto fraternal sempre que nossos olhos se encontravam. Desde o último sonho, meu rosto tem ficado mais vermelho que o de costume à reações desse tipo. Até uma funcionária da escola veio me perguntar se eu não estaria com febre.

Era confortável ficar sozinho no jardim da escola, os únicos curiosos que passavam por lá eram os casais de amantes que às vezes se beijavam, não se importando com a minha presença. "Talvez eu deva ser um fantasma..." pensava. Mas sempre apagava essa idéia quando aquele garoto me encarava...não sabia muito sobre ele, realmente...só sabia que ele estava no terceiro ano do ensino médio e que sempre estava rodeado de amigos e garotas que o entregavam bilhetes perfumados. Era bonito, sim...me pergunto como nenhuma menina ainda o tenha conquistado...aliás são tantas as opções...e todas tão lindas e perfeitas.

"E eu aqui..." era o que vinha à cabeça. Tive a sensação de cochilar um pouco sentado na grama do jardim. Mas num piscar de olhos estava na biblioteca, envolto nos braços de alguém maior e mais musculoso que meus braços finos e brancos. Pisquei novamente, e despertei com o sino soando.

Me apressei em levantar-me desajeitosamente junto com a minha bolsa de lado e corri em direção à biblioteca. O bibliotecário ainda não havia voltado de seu lanche junto com os professores. Ainda tentando acalmar minha respiração corri meus olhos pela sala à procura de algo...vendo que não encontrei nada, comecei a folhear um romance português, mas aquilo não estava me acalmando. Parti para a seção de romance policial inglês. Então, ouço a porta se abrindo. Sem tirar a cara de trás do livro, comunico:

-Já sei, já estou indo para a sala, não precisa me jogar...-disse num tom àspero me dirigindo à porta.

Para meu espanto, não era o bibliotecário...mas sim "ele".

-C-com licença - murmurei timidamente, tentando conseguir passagem pela porta, bloqueada por ele.
-Não posso deixar você ir...preciso de sua ajuda...

"Uau essa me pegou de surpresa" pensei tentando imaginar o que estaria por vir.

-Hmm? - tentei mostrar interesse, fingindo folhear o romance. -Diga...?

Mas a ajuda não foi dita, foi executada. Num piscar de olhos, meu livro estava estirado no chão, e ele me abraçava, me colocando contra a parede. Eu estava praticamente escondido atrás daquele brutamontes, com o rosto encostado em seu peito. Sentia sua pulsação acelerada, e algumas gotas quentes cairam sob à minha testa. "Por que ele chora?" fiquei com receio de perguntar, talvez ele só quisesse ficar quieto, ou que eu ficasse quieto. Me entreguei ao seu abraço, sentindo um pouco de vertigem pelo perfume, pelo seu calor. Era difícil pensar em alguma ação, ou frase, naquela situação...parecia meu sonho se materializando na realidade...O sinal já havia soado novamente quando ele me largou. Talvez a minha presença o tenha feito se acalmar, desabafar consigo mesmo, como eu sempre faço.

Finalmente, ele sorriu, me encarando com aqueles mesmos olhos objetivos de antes. Afagou meu cabelo e saiu...

Fiquei ali congelado, tentando raciocinar e organizar os acontecimentos de hoje...Agora, já deitado em minha cama novamente, desejei calorosamente, pela primeira vez em minha vida, que aquilo não tenha sido apenas um sonho.

2 comentários:

  1. Eo acho que o seu personagem é emo ;D
    No entanto ele está me deixando cada vez mais curiosa pra saber o que acontece.

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  2. Eu acho que tanto a Ana quanto o Flávio tem personagens que dormem demais! E que acordam mais aindaaa! - hahaha - Adoro ler o blog de vocês! =)

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